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Entrevistamos o aluno Andrio  Robert, discente do curso do Produção Cênica do 4° período. Ele atualmente faz intercâmbio em Portugal, residindo na cidade de Lisboa, e dividiu um pouco das suas experiências no curso Licenciatura em Cinema, Vídeo e Comunicação Multimédia da Universidade Lusófona de Humanides e Tecnologia.
 


SPC – Andrio, como tem sido a experiência de representar o curso de Produção Cênica fora do país?

A.R - Tem sido uma experiência profissional e pessoal incrível, pois as pessoas aqui possuem um acesso à cultura muito diferente do que no Brasil. Desde a escola primária ou secundária crianças e jovens tem em suas atividades extracurriculares o contato com dança, arte, cultura, teatro, cinema e etc. Desde cedo são inseridos nesse meio e assim aprendem a gostar e ter um outro olhar sobre essas áreas.

E não só os jovens, isso é algo que já vem de tempos, de várias gerações. Moro na casa da Sra. Lou, 70 anos, uma pessoa incrível, com um conhecimento artístico e cultural invejável, possui um vasto campo de conhecimento sobre as Artes e sendo assim nota-se a diferença da visão sobre a vida, pois possui uma cabeça aberta para o futuro, para o novo e para qualquer tipo de diferença. Sua casa tem quadros de seu filho formado em Belas Artes e sente-se que a família toda tem um "pézinho" nas Artes de alguma maneira. A cidade de Lisboa é muito cultural nesse período está ocorrendo: festa do Cinema Francês, Festival da Cultura Espanhola, Doc Lisboa, e etc...
 

Ser artista e estudar algo envolvido com as Artes aqui não é motivo de vergonha ou inferioridade. Não digo que senti vergonha em algum momento no Brasil, mas aqui a visão sobre a arte lhe dá a importância merecida, há um espaço para que a arte e a cultura cumpram os seus papeis e tragam uma qualidade de vida melhor às pessoas. Não há um rebaixamento tão acentuado entre a arte e as outras áreas como há no Brasil. A arte é reconhecida pela importância que tem e não somente por alguma associação com fins educativos e/ou sociais como acontece muito em nosso país.

SPC - Sente muita diferença entre o sistema de ensino do Brasil e de Portugal?

A.R - O primeiro ponto é que estou numa universidade privada. Já é uma enorme diferença de estrutura e funcionamento. Cada disciplina possui cerca de 3 ou as vezes até 4 professores. Por exemplo na minha disciplina de Operação de Câmera e Vídeo possuo três professores e um auxiliar: um fala só sobre Iluminação pra TV e Cinema, outro só sobre planos, foco, zoom, enquadramento, outro fala sobre outra parte da disciplina e assim as aulas vão acontecendo: 2 horas com um professor, outras 2 horas seguidas com outro, porém na mesma disciplina. Cada professor dessa disciplina pede seus trabalhos e faz provas. Ou seja, a cobrança é muito maior, pois uma disciplina ( ou "cadeira" que é o termo usado aqui) se subdivide e equivale por três ou quatro. Geralmente os trabalhos são curtas entre 3 a 10 minutos. Isso dá muito trabalho,por que geralmente também são individuais. Ainda estou me adaptando por que tenho a desvantagem de não saber nem ligar uma câmera dessas profissionais daqui, mas uma grande parte dos alunos já possui suas câmeras ou já tiveram algum tipo de experiência na área. Há diversos estúdios equipados com inúmeros projetores, luzes para TV e Cinema. Também existe um ARMAZÉM só do curso de Cinema,lá estão todos os equipamentos que a Universidade empresta para os alunos produzirem seus materiais para as aulas: projetores, luzes, equipamento de som, inúmeras câmeras, tripés e etc. Algumas câmeras chegam a custar 35 MIL EUROS todas cobertas por um seguro 100% da Universidade. A Universidade também empresta esses equipamentos todos até para seus alunos realizarem produções independentes e até concorrerem em festivais. Entretanto se o vídeo for o ganhador e o prêmio for um troféu o mesmo ficará com a universidade, mas em caso de prêmios em dinheiro a universidade abre mão, mas retém os direitos de imagem e do vídeo para ela como propriedade.

 

O inglês aqui é uma língua indispensável, algumas disciplinas tem toda a bibliografia em inglês ou no mínimo 50%, alguns eventos do curso também são todos realizados em inglês pelo fato de Lusófona receber alunos do mundo todo, dentre as nacionalidades que eu conheci: Eslovênia, Polônia, Itália, Espanha e Turquia. Além de particular Lusófona possui um nome no mercado português e europeu e por isso visa uma formação técnica de seus alunos extremamente aprofundada, em alguns dias tem aula das 8 da manhã até as 18:00 horas. Assim como Produção Cênica o curso de Cinema passou por uma reformulação de grade para adequação ao mercado do Cinema. Eles realizaram um levantamento de dados de seus alunos dos últimos 12 anos e a partir das dificuldades ou dos sucessos alcançados por tais alunos resolveram investir mais em algumas áreas e alterar outras.
 


SPC – Em relação as tuas experiências com produção teatral, acha que serão positivas e te diferenciarão dos demais colegas?

 

A.R - Sim. São extremamente positivas e é a vantagem que mais me ajuda nas disciplinas que estou realizando. Uma grande maioria de envolvidos com Cinema ou os alunos do curso possuem uma visão técnica: aprende os comandos de um programa de edição, fala sobre enquadramento, entende a diferença dos planos, mas falta aquele sabor a mais que quem vem dos estudos do Teatro possui: que é a sensibilidade artística mais apurada.(Mas não podemos generalizar, claro!) Os mais técnicos se dão bem em disciplinas mais envolvidas com a montagem,edição e pós produção. As vezes estudo algumas coisas que parecem vir de um curso de exatas, parece matemática e física. Mas nas disciplinas de criação, roteiro e análise é preciso ter uma visão mais artística para que aquele movimento de câmera não seja apenas um movimento aleatório ou que aquele efeito realizado no programa não seja apenas um efeito para deixar o filme mais "bonitinho". Observo que acontece um equilíbrio quando estes dois lados trabalham juntos: ARTE e TÉCNICA. Um precisa do outro pra se realizar. O que posso dizer é que preferi trocar a disciplina de Edição e Pós Produção ( que é a parte extremamente técnica de comandos, programas e edições) e substituir por disciplinas envolvidas com análises e criação. No momento estou trabalhando em um roteiro individual de minha autoria que está concorrendo entre os alunos do último ano para virar um Curta Final de Conclusão de Curso. Faço a disciplina de Ateliê de Realização e Produção de ficção cinematográfica com o último ano do curso. Há 8 à 10 vagas para os Curtas. Serão duas fases de votação: alunos e professores. Além de um dia em que cada autor do roteiro defende sua obra. Caso eu consiga chegar a fase final o curta poderá ser rodado no semestre que vem. Ainda estou na fase de sinopse e análise para construção do argumento.


SPC - Existe em Portugal algum curso de produção cênica? Você tem alguma matéria na graduação que ensine algo sobre produção teatral?

 

A.R - De acordo com minhas pesquisas de Universidades no processo de intercâmbio não vi nada relacionado diretamente com Produção Cênica. Possivelmente tenha algo mais para Gestão Cultural, mas não posso afirmar. Todos os cursos que vi eram cursos de formação de atores. Em Lusófona há um curso chamado Artes Performativas, há disciplinas próximas as que tivemos em Produção Cênica, mas não tem por objetivo a formação de produtores cênicos/culturais. Ligado à produção teatral não tenho absolutamente nada. Mas as análises realizadas para as disciplinas de História do Teatro I e II, Literatura Dramática e Dramaturgia Brasileira me ajudaram muito na disciplina de Ateliê de realização e Produção Cinematográfica,pois precisamos realizar muitas análises de personagens, cenários, trechos de diálogos, conceito, contexto e etc. E como foi um exercício constante em Produção Cênica eu consegui ter facilidade para realizar no curso de Cinema. Há uma disciplina chamada Ateliê de Publicidade e Marketing que é basicamente uma mistura das disciplinas de Gestão de Empreendimentos Culturais e Marketing Cultural na sua essência, mas adaptado um pouco para o Cinema e Audiovisual.



SPC – Quais suas expectativas com o intercâmbio?
 

A.R - Ainda não se completaram nem os primeiros 30 dias, mas já tenho muitas! Tenho por objetivo trazer um pouco da cultura brasileira para cá e mostrar um pouco mais do que temos em nosso país. Quero muito que meu roteiro consiga entrar para os escolhidos para ser rodado e exibido, também pretendo fazer um documentário sobre os Artistas Brasileiros que moram em Lisboa para a disciplina de Ateliê de Documentário, colocar para debate alguns filmes brasileiros na disciplina de Atelie de Realização e Produção Cinematográfica que visa um pouco de análise de personagens e cenas. E buscar um diferencial, pegar o que tem de melhor essa experiência e transformar em força para alcançar objetivos maiores que ainda estão em processo de construção.
 

Andrio Robert - aluno bolsista

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