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Andrio Robert - De volta ao Brasil, experiências em Portugal

De volta ao Brasil, Andrio compartilha suas experiências em Portugal e sua participação na EXPO MILÃO.

 

 

Equipe Seminário de Produção Cênica - Como é a experiência de realizar um intercâmbio?

 

Andrio Robert - É algo que vai muito além de apenas uma experiência acadêmica. É uma transformação cultural, pessoal, emocional e profissional. Você precisa zerar sua vida e estar aberto a novos costumes e cotidianos que podem ou não agradar. É de extrema importância principalmente para nossa área, pois isto tudo influencia em nossa visão do mundo, da ARTE, da Cultura e também em nossas inspirações artísticas. Se bem aproveitado, um intercâmbio pode fazer com que a gente encontre coisas dentro e fora de nós mesmos. E para o artista isso é algo fundamental. Um mergulho dentro de si para uma nova fase que derruba suas estruturas, mas reconstrói novamente. Fazer um intercâmbio é se permitir viver uma vida sem roteiro e não ter medo de todo o desconhecido que isso traz. Sem dúvidas é também uma experiência viciante para quem gosta de experimentar os extremos da vida e das próprias emoções. um pouco da gente fica deste lado de onde saímos e um pouco também fica lá no outro destino quando voltamos.

 

ESPC - E em relação a Portugal?

 

AR - A relação com Portugal, de um modo geral, foi boa. Todo mundo tem a ideia errada de que as culturas são muito parecidas por toda a questão histórica envolvida. Grande e absoluto ERRO! São culturas extremamente dististas e hora ou outra isso resulta em alguma espécie de "disputa cultural" onde um quer mostrar que não é mais colônia e o outro ainda quer ser colonizador. É um país muito bonito, tem praias incríveis e vale a pena conhecer. Lisboa é, relativamente, pequena. Se vê poucas pessoas pelas ruas, possui uma população idosa um pouco acima do que estamos acostumados aqui no Brasil. Lamento por ser um país que ainda não sabe lidar com algumas questões, principalmente relacionadas à sexualidade. E torço para que quando eu volte algumas coisas tenham melhorado nas questões de racismo, preconceito e homofobia. Há uma veia cultural muito interessante principalmente na capital e a grande dificuldade encontrada foi a questão das relações de amizade. A tal ideia do europeu "frio" não é mito: segue à risca! E para nós brasileiros que , geralmente, precisamos daqueles abraços, carinhos, contatos e amizades de longa data, temos dificuldade em nos adaptar com esta suposta "frieza".

 

ESPC - Como foi voltar para o Brasil depois de tanto tempo?

 

AR - A volta ao Brasil tem sido muito boa. Eu tinha muito medo e não foi fácil fazer as malas para voltar. Não que eu não quisesse sair de lá.Eu já sabia que já tinha sido tempo suficiente para tudo, mas inevitavelmente uma vida cria-se lá: pessoas, momentos, lembranças e etc. Tudo é um misto dentro de nós na hora da volta. Entretanto parece que aqui é uma "parte II" do que foi lá vivido. Lições e reflexões ficaram para seguir nesta nova etapa. Claro que para mim é uma realidade muito impactante retomar a rotina de sempre. Mas ao mesmo tempo não tem sido tão difícil assim. Em alguns momentos sinto um pouco de alívio. Eu precisava estar em meio à pessoas que gosto, família, amigos e voltar para TPC. Entretanto tenho planos de, no mínimo, mais dois intercâmbios nas etapas de mestrado e doutorado se tudo correr bem.

 

ESPC - Agora, abrangendo um pouco as perguntas. Quais são as diferenças entre o mercado artístico português e o brasileiro?

 

AR - O que pude analisar mais de perto é mesmo o mercado cinematográfico português. Portugal vive em seu Cinema hoje um pouco do que vivíamos mais intensamente no nosso em alguns anos atrás. E talvez ainda temos um pouco disso, mas sem tanta ênfase. O mercado de cinema português tem seguido muito para a comédia ou, segundo alunos do curso de cinema, para o tal "apelo sexual". Em sua maioria , alunos portugueses de Cinema não gostam e não assistem filmes portugueses. É uma grande guerra com os professores, mas sendo bem sincero: em sala de aula só tivemos exemplos de filmes franceses, americanos e brasileiros.

Com a crise no país a parte cultural e artística está muito abalada: muitos atores fazem muitos trabalhos não remunerados, não há um grande incentivo por parte do governo e até mesmo os professores se preocupam com o futuro de seus alunos.

O método de ensino foi um pouco complicado, pois é um tanto diferente. Algumas disciplinas possuem até 4 professores que subdividem os temas e cada um dá aulas específicas sobre determinados assuntos. É muito bom, mas por outro lado na hora das provas acontecem confusões de temas para estudarmos e ficamos um pouco perdidos na parte teórica. Entretanto na prática esse método de professores especialistas é muito eficaz. A minha dificuldade foi com a ausência de possibilidade de experimentação, pois por ser um universidade privada o resultado focava-se em um ensino totalmente voltado às necessidades "quadradas" do mercado existente. Creio que isso seja muito bom, mas ao mesmo tempo é limitador.

 

 

ESPC - E a produção? Como se realiza o financiamento de projetos lá?

 

AR - Pelo que observei em todo o processo de filmes não notei uma legislação parecida com a Rouanett lá. Nossos filmes de conclusão de curso foram todos com "patrocínio direto": empresas davam dinheiro, basicamente, em troca de sua logo no filme, no cartaz de divulgação e/ou folders. Havia um outro método que eu achei curioso e que , na minha opinião, desvaloriza a arte nos colocando quase em posições de "mendigos". Era o "crowdfunding" onde deveríamos praticamente implorar para que pessoas contribuíssem com qualquer valor depositando nesta conta até determinada data. Abria-se essa espécie de conta e lá deveria constar o valor mínimo que arrecadaríamos: só retiraríamos o dinheiro se alcançássemos o valor mínimo mencionado. Caso contrário todo o dinheiro era devolvido às pessoas. Não me fazia muito sentido na cabeça, mas era um dos métodos de arrecadação de dinheiro para a produção que tínhamos.

 

ESPC - O que você diria que a produção de arte no Brasil poderia aprender com a produção Portuguesa?

 

AR - Eu não me envolvi diretamente em outras artes em Portugal. Percebi muitas dificuldades na produção artística no país devido à crise. Seria até injusto um julgamento da situação artística do país nesse momento. Sinto que o Brasil nesta área está bem à frente de Portugal e não sou eu que falo isso. Um professor me questionou sobre por que escolhi ir para Portugal estudar Cinema já que nosso Cinema está em alta e que muitos portugueses pretendem vir ou já estão trabalhando aqui na área artística, cinematográfica ou televisiva. Novela e música brasileira é algo muito presente na vida dos portugueses. As novelas da Globo passam exaustivamente na tv portuguesa e fazem um estrondoso sucesso, e as músicas brasileiras estão espalhadas pelos bares e baladas.

Tenho fé nesses alunos que estão se formando nas escolas de cinema em Portugal: tem muita gente talentosa que já sou fã. Sem dúvidas eles dão esperança ao mercado artístico do país.

 

ESPC - E o que teríamos a oferecer a eles?

 

AR - O que temos a oferecer ao mercado português é a nossa capacidade de experimentação e inovação. O brasileiro tem isso por "natureza". Acredito que enquanto Portugal ficar apenas formando profissionais para suprir o mercado não acontecerá muita coisa nesse meio artístico. É preciso algo que mude o rumo do mercado artístico do país. Novas coisas, novas ideias, sangue novo querendo trabalhar e mostrar novidades para o público.

 

ESPC - E sobre a Expo Milão? Como funciona e como se deu a seleção do seu vídeo?

 

AR - A Expo Milão é um evento que acontecerá ano que vem na Itália para um público estimado de 20 milhões de pessoas e neste ano lançou um concurso junto com o 9º Festival de Cinema em Roma. Fiz meu trabalho depois de ter até mesmo desistido da inscrição. Na última madrugada resolvi gravar editar o que viria a ser o vídeo ganhador para a minha surpresa. Nas regras os vídeos deviam possuir no máximo 1 min e abordar a temática: Sustentabilidade, vida no planeta, miséria e alimentação podendo viajar pelo cinema experimental para chegar a este resultado. Depois de avaliação de professores e do coordenador do Curso de Cinema da universidade onde realizei meu intercâmbio , eles constataram que o vídeo possui muito o perfil do festival e que deveria ser inscrito. Uns 20 dias após isso recebo um e-mail comunicando que meu vídeo  foi selecionado e indicado para duas categorias: a pública para votação e a técnica para avaliação de jurados. Nesta pública o ganhador que obtivesse o maior número de votos no mundo todo iria com tudo pago participar do 9º Festival de Cinema em Roma em outubro e ter seu filme exibido para o público neste evento. Depois de um mês e meio de divulgação eis que o resultado surpreendente chega: segundo a contagem de votos válidos PLANET-LIFE-SAVE ( o meu vídeo) havia sido o mais votado mundialmente e assim fui o ganhador.

Entrevista por Hugo Mendes

Assista ao vídeo do Andrio na íntegra clicando

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